sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Das partilhas ao conhecimento do Mundo

Esta semana a Maria E. trouxe uma cesta cheia de elementos da natureza para partilhar com os amigos. Naquela cesta, repleta de pequenos tesouros, vinham pinhas, folhas, carocas (bugalhos) e bolotas. Logo à partida estes pequenos pedaços de Natureza dariam para uma infinidade de experiências. Só por si estes elementos naturais são excelentes brinquedos e foi isso mesmo que durante horas aconteceu na nossa sala. 



Depois da partilha da Maria, muitas foram as brincadeiras que aconteceram com os bugalhos, as pinhas e as bolotas...  



No fim do dia e depois de muitas conversas sobre as bolotas, eu trouxe para a sala algumas imagens onde as crianças poderiam ver as bolotas no seu ambiente natural. Com as imagens do sobreiro e das bolotas nas árvores, vieram também imagens de esquilos - porque toda a manhã eles me diziam que os esquilos comem bolotas - e de cortiça.


Na manhã seguinte trouxemos todos os elementos que tínhamos andado a explorar no dia anterior para cima da mesa. Em pequeno grupo - com crianças a sair e a voltar para a mesa, dependendo do interesse e tempo de concentração de cada um - fomos observando aquelas imagens e fazendo a relação com as bolotas que a Maria trouxe. 


Começámos então a organizar ideias. O maior interesse foram as bolotas e por isso chegou a altura de eu escrever sobre elas. «Onde nascem, quem as come, que outras "coisas" nos dá esta árvore de bolotas?»


No centro de recursos da escola havia um pedaço grande de cortiça que já havia sido trazido por outra família em tempos e que ficou para outras utilizações. Fui buscar esse pedaço de cortiça e deixo-os explorar. 


Todos quiseram tocar, cheirar e comparar com as imagens reais que tínhamos partilhado no dia anterior e que continuavam por ali na nossa sala. 


Por fim, mostrei-lhes um caixa cheia de rolhas de cortiça que usámos para brincar, para empilhar, para fazer conjuntos e pequenas contagens. Contei-lhes que as rolhas foram feitas também a partir daquela árvore. Aquela que dá bolotas... as bolotas com que gostam tanto de brincar. 


Foi uma manhã rica de tantas descobertas e explorações. Foi uma semana em cheio com brincadeiras infinitas com estes elementos naturais que fazem as delícias das crianças.


"O planeamento de atividades em creche decorre de diversos pontos de partida, podendo estes confluir em propostas carregadas de significado. Como pontos de partida temos os interesses das cranças manifestados pelo seu comportamento e pelas suas verbalizações, bem como pelas escolhas espontâneas que fazem. (...)"  Folque, Bettencourt & Ricardo

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

As primeiras partilhas

Na nossa escola valorizamos imenso a participação das famílias. Sentimos que tudo ganha outro sentido quando as famílias são envolvidas neste processo de aprendizagem. "O trabalho com a família tem como objetivo promover a comunicação e as conexões entre o mundo familiar da criança e o mundo da creche, capaz de ampliar as aprendizagens das crianças." (Folque, Bettencourt & Ricardo). 

Não queremos ser um fardo para as famílias, mas acreditamos que a partilha de uma experiência, a fotografia de um momento, um objeto que gostamos em casa, traz uma nova dimensão ao trabalho em creche. Ao termos em conta as partilhas que chegam de casa, estamos também a envolver as crianças na participação do planeamento de novas atividades. 

Desde o início do ano têm chegado diversas partilhas à nossa sala. Aquele momento em que uma criança se senta à frente do grupo e "mostra" o que trouxe, num tempo de comunicação (verbal ou não verbal) com o outro é um momento de enorme valorização pessoal e de validação social. É quando nos tornamos comuns e o que é "meu" passa a ser "nosso". 


O Sebastião trouxe uvas e os seus cereais preferidos para partilhar ao lanche com os amigos. 


A Francisca trouxe um xilofone moçambicano que fez as delícias de todos na sessão de música com a professora Margarida. 


O Santiago trouxe marmelada da avó que partilhou com as crianças da nossa sala e ainda com as crianças da sala da Susana. Um momento muito enriquecedor para todos com este encontro geracional tão bom! 


A Beatriz trouxe uma boneca e mostrou aos amigos cada parte do corpo: "Aqui é cabeça, os olhos, a barriga..." No fim da comunicação a boneca da Beatriz foi para a área do faz-de-conta onde foi alvo de inúmeras brincadeiras. 


O Eduardo apanhou folhas secas com o pai e trouxe um saco cheio que partilhou entre os amigos.


A mãe e o pai da Francisca trouxeram de Moçambique uma caixa de tesouros daquela terra. Ao abrirmos a caixa descobrimos conchas, corais, cascas de frutos secas, búzios e tantas outras coisas que quisemos explorar. 


sexta-feira, 15 de setembro de 2017

A ação social dos bebés

Na creche existe a tendência de darmos às crianças tudo já pronto a ser explorado. A nossa perspetiva adultocêntrica condiciona muitas vezes a nossa ação. Por vezes é preciso parar e refletir sobre como aprendem os bebés, sobre como se relacionam com o mundo e os objetos ao seu redor. É preciso valorizar a ação social dos bebés. Claramente seremos surpreendidos sobre o saber fazer que bebés e crianças pequenas já têm. 

Desde o início do ano que andamos de volta da organização do espaço da sala e percebemos com as crianças o que faz falta e o que lhes faz sentido. Foi assim que decidimos fazer o nosso mapa de aniversários. O mapa de aniversários surge como instrumento do grupo, onde temos fotografias de todos - adultos e crianças - e respetivas datas de aniversário. 

Para fazermos este mapa eu propus que fizéssemos digitinta. Em cima de uma mesa deixei várias garrafas de tinta. À vez, cada um escolheu a cor que quis utilizar, pegou na garrafa, levou-a até à mesa, abriu-a ou teve ajuda para a abrir e depois de espalhada a tinta em cima da mesa pôde experimentar esta técnica de expressão plástica. 



A forma como cada um reagiu a esta nova atividade também foi muito interessante. Alguns espalharam a tinta (quase) até aos ombros, outros tocaram e depois decidiram não fazer (a não participação também é uma forma de participação e não devemos esquecê-la), outros houve que a par e passo, com calma e segurança passaram por todas estas fases: observar, tocar com apenas um dedo, depois uma mão e em seguida outra até espalhar toda a tinta na mesa. 


No final sempre aquela reação de espanto e capacidade de se surpreenderem, fosse com a tinta na pele, fosse com a estampagem na folha... cada momento que se viveu, viveu-se com prazer e tempo de exploração. 

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

De volta à Creche

Pé ante pé regressei à Creche. Foi nesta segunda-feira que entrei, pela primeira vez, com o meu novo grupo, na nossa nova sala. Já nos conhecíamos um pouco. Fui visitando-os durante estes meses de Verão... mas eles ainda não me tinham como deles. Foi esta semana. Esta semana que se começaram a criar relações. A primeira vez que me pediram ajuda para a última colher de sopa, a primeira vez que escolhemos uma história juntos, a primeira vez que se encostaram no meu colo, que lhes cantei uma canção, que me chamaram "Mata" ou "Pata"... e que doce é ouvir este chamar, que bom que é sentir esta pertença, que bom que é voltar à creche. 

Esta foi uma semana para nos adaptarmos uns aos outros, mas também para me rejeitarem, quando preferiam o colo da Fátima, ou a ajuda da Nádia... (na creche as referências são tão importantes, há que respeitar e dar-lhes tempo). Foi a semana que nos conhecemos melhor, que começou devagarinho e que terminou com tímidos abraços e muitos mimos. Foi a primeira semana de muitas. E foi também a semana em que eles começaram a explorar o espaço:


Aconteceram tantas brincadeiras no faz-de-conta!


As primeiras construções em cooperação!


Houve tempo para muitas "leituras" na zona da biblioteca.


...e inúmeras explorações nas diferentes áreas. 

Este ano promete.