quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Saídas

Pedi-lhes para fazer um trabalho de escrita no caderno. No final, quando comecei a ouvir os habituais "já acabei!" perguntei-lhes: -" E já escreveram o nome?" (como sempre faço quando eles acabam os trabalhos). Resposta da dona Inês: -" Oh Marta para que é que é preciso escrever o nome??? O trabalho está feito no caderno, por isso já se sabe que é nosso, não é preciso escrever o nome!!!!" E pronto fiquei sem resposta... Lá está, a funcionalidade da escrita parece bem adquirida!

15 comentários:

  1. Fantástico! Cada dia que passa a Joana também nos surpreende bastante na sua aquisição de conhecimentos: há uns dias de visita à Quinta Pedagógica dos Olivais, ela desatou, sem qualquer ajuda e ler algumas palavras escritas no chão: galo, gato, vaca, pato, foram proferidas sem qualquer hesitação!
    Difícil agora é refrear este desejo pela escrita e leitura que a Marta tão bem criou na sala.
    Samuel.

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  2. Brilhante raciocínio.

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  3. Parece-me que a Inês tem toda a razão. Afinal qual é que é necessidade dos nomes de sabem de quem são os cadernos.
    Perfeito Inês.
    Bjs

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  4. Mas Samuel, este é daqueles desejos que não podemos nem devemos refrear. Deixá-los à solta para que possam saciar essa vontade que sentem em……ler e escrever, claro! Acho fenomenal, sabendo de antemão que não vai durar para sempre, pelo menos sob esta forma tão pura. É quase para dizer que “não há amor como o primeiro” e, acrescentaria, “nem educadora…” snif snif!!

    PS: é assim mesmo Inês, nem mais!
    ("teacher leave us alone!!) :)

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  5. Sofia, tanto quanto me foi dado a entender uma criança na primária que já saiba ler e escrever pode ter dificuldade a aceitar um ritmo eventualmente mais lento da restante turma nessa aprendizagem. Daí que não fomente na Joana a leitura e a escrita, embora responda a todas as suas solicitações. E a Marta o que diz sobre isto?
    Samuel

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  6. Na minha opinião não estamos, nem devemos ensinar a ler e a escrever. Mas temos de aceitar o interesse e gosto espontâneos que surgem em cada criança. Acho que não devemos fomentar demasiado a leitura e a escrita nestas idades, para evitar que no próximo ano (quem entra no 1º Ciclo) eles se desmotivem com a repetição de aprendizagens. Cada etapa a seu tempo!!!

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  7. Não creio que refrear seja a resposta embora concorde com o "não incentivo" se projectarmos essa imagem da criança na margem por saber ler/escrever “antes do tempo” e a sua consequente perca de entusiasmo. Contudo, talvez seja útil colocar a questão a par da aprendizagem de uma segunda língua e encarar estes primeiros anos como uma oportunidade única (pura, sem filtros) para os fazer explorar um pouco de tudo, de forma a incentivar neles receptividades variadas (daí a importância do MEM). Só isso! Creio ainda, Marta e Samuel, que o modelo etapista de aquisição das “competências” (só a palavra dá-me arrepios….) por parte das crianças (ciclos de desenvolvimento supostamente universais e iguais para todos) é apertado e restrito, dando muitas vezes origem a posições de alarme por parte dos pais ("o meu filho ainda não faz…” ou “não será demasiado cedo para…”) e, muito pior, quando gera uma espécie de ditadura da maioria onde a “diferença” é desvalorizada, tolerada e (batam na madeira!) penalizada.
    Em todo o caso, a intenção inicial da minha interpelação era do tipo jocoso, ainda que adore um bom debate ;-)

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  8. Desde já peço desculpa estar a intrumeter-me nesta conversa, mas parece-me interessante deixar aqui uma questão no ar para os pais que vão ver os seus filhotes ingressarem no 1ºcilo. Pensem qual deve ser o papel do professor que quando conhece a sua turma se depara com crianças, como os meninos da sala da Marta, que estão dispertos para a leitura e a escrita, deve fazer?
    Não será a diferenciação pedagógica um sinal vital para as capacidades e compet~encias de um professo? Será que receber no 1º ano crianças que já sabem "ler e escrever" não é uma mais valia?
    Aqui ficam as questões...
    E a Marta, o que lhe parece?
    Bjs

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  9. Claro que é uma mais valia as crianças estarem já despertas e motivadas para estas aprendizagens. E obviamente que quando se fala em etapas, falamos em etapas individuais, ou seja, cada criança ao seu ritmo despertar de forma espontânea para cada área. Este "despertar" único é o cerne do investimento da criança nas áreas que gosta. Por isso não esqueçamos as questões emocionais que estão aqui envolvidas. O que procurei realçar desde o inicio é que é importante enquadrar as nossas ansiedades de pais e educadores nos desejos e capacidades dos nossos filhos. Só assim poderemos agir de forma mais adequada, sem exageros ou indolência.

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  10. Julgo que foi a ideia do “refrear” que me criou confusão, não gosto do que projecta na minha cabeça e a sua prática, seja em que idade for, arrepia-me. Concordo que é uma mais valia entrar no 1º ciclo desperto ou mesmo a saber ler/escrever e sem dúvida que uma pedagogia diferenciada por parte do professor, como a Matilde sublinhou, é muito importante e será até porventura o sal da própria profissão. No entanto, poderíamos também fazer a pergunta do Samuel ao contrário - e se a criança não consegue acompanhar o ritmo “menos lento” do restante grupo? Mas a verdade, a meu ver, é que são estas mesmas questões que nos levam a encarar o ler/escrever enquanto “competências” (ou seja, como comportamentos que se gerem de forma tipificada e que são avaliados de acordo com padrões quantificáveis) e portanto, de certo modo, até a receá-los. Posto isto, a minha pergunta é: e porque temos nós, os pais e o ensino “pré-escolar”, tomar o ler/escrever daquela maneira (já que no período escolar isso parece inevitável na maioria das escolas)? Por outras palavras: ao observar o meu filho enquanto lê e escreve, sem nunca ter sido formal ou intencionalmente ensinado, o que percebo é puro prazer e deslumbre, a par de um grande desejo. Ora, precisamente, nestes “verdes anos” ;-) não deveria o ler/escrever remeter-nos antes de mais para níveis relacionados com a fruição, com o gozo e o usufruto, enfim, com os sentidos humanos, que podem e devem nessa medida ser saciados?

    Fica a acha.

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  11. Muito obrigado a todos quantos estão a participar nesta discussão, esta é mais uma grande mais-valia deste blog. Para refrear um pouco a questão, Sofia, por favor esqueça o termo refrear. Vejamos outro que não nos cerceie. No limite o que eu interrogo é se uma criança que concretizou as aptidões do 1º ano, não fica "deslocalizada" quando colocada no nível de ensino cujo programa a confronta com aquilo que ela já sabe. No fundo a minha questão sempre foi "ao contrário". Os casos limite são bem conhecidos e estão diagnosticados: são os hiper-dotados e para esses há o ensino especial. Não se tratando, felizmente, de uma situação destas, como agir com o meio termo ,ie, com um caso como o da Joana (e que não deverá ser o único)? Na verdade, parece-me que somos pais de uma geração que se preocupa muito e descontrai pouco. Não estaremos, nós próprios a valorizar demasiado esta questão, cujo fim é a felicidade dos nossos filhos? Estou mais de acordo com a Marta: não obstante o desejo de ler/escrever o tempo agora é de brincar/descobrir e (depois de ler todos estes argumentos) creio que talvez devesse ser dessa forma que devessemos ver este interesse pela escrita/leitura: como uma descoberta que a irá levar ao conhecimento, uma coisa de cada vez. Sem refreios, mas sem ensinar a ler/escrever.
    Samuel

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  12. O meu argumento desde o início foi esse: é a brincar e a descobrir que se lê e se escreve aos 5. Daí ter sublinhado a dimensão do "usufruto", que desvaloriza a preocupação do ler/escrever “antes do tempo”, e por conseguinte ter questionado o verbo “refrear” (mortinho). Em relação à tua última frase Samuel, creio que mesmo sem os ensinar eles continuam a aprender, nomeadamente a ler/escrever. Imagino pois que seja aqui que reside o cerne da discussão e concretamente no acto de ensinar – é que há ensinar e ensinar…

    PS: Marta, é só mandar-me parar, ok?! ;-)
    bjs

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  13. Bom, "arrumado" que está o "refrear", parece-me que na essência concordamos. Pela minha parte agradeço as contribuições neste "debate". A grande questão, porém, continua (para nós) a ser esta: como vai a Joana (e aqui, presumo, todos os pais das crianças da sala da Marta) lidar com a transição para a primária. O envolvimento da Marta, das crianças e mesmo dos pais é tão grande e tem consigo tantas implicações (participação, diversidade dos temas abordados, a própria abordagem desses temas, sentido de responsabilidade, ajuda, trabalho em grupo, cumplicidades, capacidade para ultrapassar conflitos e dificuldades, enfim, o ambiente de felicidade e escola alegre em que vivem diariamente) que receamos que não vai encontar continuidade. Mas, ok, uma coisa de cada vez.
    Samuel.

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  14. Tudo isso que enumeras, Samuel, do nosso ponto de vista, meu e do Jeff, é à partida uma vantagem, mais-valias que os nossos filhos levam para o 1º ciclo: a participação, a diversidade e abordagem dos temas, o sentido de responsabilidade, a ajuda, o trabalho em grupo, as cumplicidades, etc., são tudo coisas que eles não vão deixar na sala dos 5. Graças à equipa PD e à educadora Marta, são coisas que já SÃO deles. E se vieram a estar mais bem preparados do que a maioria, esse facto não pode em si mesmo contribuir para um aumento da sua auto-estima e confiança, dispondo-os com efeito a uma maior receptividade no geral?! Ao mesmo tempo, e como já mencionei acima, não só eles vão aprender coisas novas, naturalmente, mas mesmo as que já sabem (porventura ler/escrever) serão transmitidas sob formas e com funcionalidades diferentes. Em suma, aqui em casa encaramos com optimismo esta transição para a primária. É verdade que “não há amor [educadora Marta, snif snif!!] como o primeiro” mas entre amig@s eles encontrarão a “almofada” que inicialmente, pelo menos, dar-lhes-á grande conforto (e quanto a isto, a minha opinião é conhecida).
    Abraços e BFS

    PS: não quero ser a “última”, acreditem! O que pensarão os demais?

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