segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Diálogos à volta de uma mesa

Na sexta-feira provoquei-os na reunião da manhã: "Vocês sabem para que serve a escrita?" Todos respondem que sim, aquele "sim" em coro que, quem trabalha com crianças, conhece tão bem. Continuo. "Então digam-me lá para que serve a escrita!?" As primeiras respostas são todas afetivas e distantes do verdadeiro sentido da escrita. (Quase me sinto frustrada neste momento!)

"Para aprender a escrever!" - Madalena A. 
"Para escrever palavras!" -António E. 
"Para mostrar aos meus pais!" - Madalena A. 
"Para crescer!" - Madalena B.
"Para treinar!" - António E. 
"Para aprender a ler!" - João
"Para os adultos perceberem!" - Madalena A. 

No meio do afeto, surge a primeira resposta de uma das funcionalidades da escrita. 

"Serve para escrever uma carta ao Pai Natal!" Madalena B. 
"E serve para escrever cartas aos amigos das outras escolas, como da sala da Aissa!" - Beatriz

(abre-se o caminho...)

"A escrita serve para escrever livros e histórias!" - Afonso Luz
"Serve para nos lembrarmos de coisas importantes que acontecem ou que sabemos, sítios onde fomos!" Sofia, Afonso L. e Madalena B. 
"Também serve para escrevermos o nome nos trabalhos e depois sabermos quem é que os fez!" - Madalena A. 
"A escrita serve para decidirmos o que vamos fazer no plano do dia!" - António E. 
"Serve para escrevermos as coisas más que acontecem, as coisas boas, o que fizemos e o que queremos fazer!" - Madalena A., Afonso L. e João
"Serve para fazermos convites! Os convites devem ter hora, lugar e dia!" - Madalena A. e Madalena B. 
"Eu ainda sei outra coisa... serve para identificar!" - Afonso L. 

Identificar? - pergunto

"Sim, identificar, as portas dos cinemas, as caixas dos materiais, os nossos cabides!" - Afonso L. 
"Também serve para escrever a data!" - Joana
"Nãoooo!!! A data tem números. A escrita tem letras!" - Madalena B. 
"Simmm, mas escrevemos a data... então é escrita!" - Joana

(entra o conflito cognitivo)

Se tem números, não é escrita. - dizem mais uns quantos. E eu pergunto: Então e os números servem para quê? 

"Isso é fácil! Servem para aprender a contar!" - Madalena A. 
"Para saber quantos estão... podem estar em cada área!" - João
"Para escrever a data!" - Beatriz
"Para sabermos em que dia estamos!" - António
"As portas das casas têm números!" - Afonso L. 
"E os elevadores também têm números!" - João
"Os números servem para pôr coisas em ordem!" - António E. 

Não havia mais sugestões e eu fiz uma sugestão. "E se perguntassem, este fim-de-semana lá em casa, onde é que há números e para que é que os números servem, afinal? Não se esquecem?

"Não!!!" - lá respondem de novo em coro
"Eu tive uma ideia... para não nos esquecermos, devíamos escrever num papel e levávamos para casa. É para isso que serve a escrita, não é? Para lembrar o que não fica na memória? - Afonso L. 

E foi assim que eles escreveram vários post-its e guardaram desta forma, bem pertinho dos seus pertences nos cabides. Agora estou, ansiosamente, à espera do que aí vem. Mas digam lá, não é maravilhoso ser educadora? 



Um dos lembretes! Maravilhoso!

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