segunda-feira, 15 de abril de 2019

Da curiosidade sobre o que comem as baleias a um projeto de intervenção na Creche

Tudo começou no dia em que o Miguel trouxe o livro "Baleia" para a nossa sala. Assim que o abrimos vimos que dentro da baleia estavam várias pessoas. A pergunta surgiu imediatamente. "Mas as pessoas comem baleias?" Depois desta outras perguntas foram se juntando. "As baleias vivem  na água? No mar? Nos lagos?" "O que comem as baleias? Pessoas?" "As baleias são primas dos tubarões?". Estava lançado o projeto. Como não tínhamos resposta para a maior parte das perguntas, decidimos ir pesquisar o que queríamos saber. 


Num saltinho à Biblioteca da escola, encontrámos imensos livros sobre as baleias.... todos tinham algo comum: o mar. Descobrimos então que as baleias vivem no mar. Os livros que trouxemos para a sala foram tomando conta das áreas. Nas mesas, no faz-de-conta, no tapete da biblioteca... para cada lado que eu olhava havia alguém a folhear aqueles livros com a maior curiosidade. 


Continuavam ainda a existir questões sem resposta. Já sabíamos que as baleias e os tubarões não eram primos. Já tínhamos registado as diferenças entre um animal e o outro. Já sabíamos que as baleias não comiam pessoas. Então, um dia de manhã, eu trago uma notícia para a sala. No meio das fotografias que havia imprimido para o projeto, havia uma onde o mar estava cheio de plástico. Num outro recorte de jornal a notícia que uma baleia tinha morrido por ter "comido" muito plástico.  A reação que se gerou naquela mesa, entre aquele grupo de crianças de 2 e 3 anos foi absolutamente incrível e a mensagem que ficou no final daquela longa conversa foi:

- Mas isto é muito, muito grave.
-Temos de ajudar as baleias. 
- Vamos apanhar o lixo do mar. 


As semanas que se seguiram foram de intensa produção. As famílias, sensibilizadas pela conversa (foi enviado um filme a todas) que tínhamos tido e pelas questões que os seus filhos levaram para casa, começaram a enviar mais material. Percebíamos rapidamente que podíamos fazer alguma coisa que ajudasse as baleias. 


Decidimos recolher todo o plástico usado num dia de escola, fomos a todas as salas, à cozinha e pedimos que ninguém deitasse plástico (embalagens) fora nesse dia. Ao fim da tarde tínhamos 3 sacos de 120 lts de "lixo" na nossa sala. Percebemos ali que o lixo que produzíamos era imenso. Decidimos fazer uma baleia gigante e pôr todo o plástico que recolhemos nesse trabalho. Queríamos que todos vissem o que tínhamos descoberto e que todos pensassem em ideias de como podíamos mudar esta nossa forma de estar. Na verdade usámos apenas 1/3 do lixo que a nossa escola produziu num dia - foi impossível usar mais e escrevemos essa informação.  Assim que tivemos a nossa baleia pronta, expusemos no hall da escola. 


O burburinho começou a ouvir-se por todo o lado. Ninguém ficou indiferente à baleia gigante cheia de plástico que todos nós produzimos/consumimos num dia normal de escola e que estava agora exposta naquele hall. Mas era necessário fazer mais. "Isto não chega." - dizia o Miguel do alto dos seus 3 anos. 


Decidimos convidar TODAS as salas da escola para ouvirem a nossa comunicação. Do berçário às salas do 1º Ciclo ninguém faltou à nossa comunicação. No dia marcado fizemos 2 comunicações: uma após a outra para que todos pudessem colocar questões e estarmos à vontade para falar. Desde avisos, a comunicação de factos e até uma canção que sensibiliza para a redução do plástico, esta comunicação teve de tudo um pouco. E temos de agradecer à professora de música, Margarida Barros, que nos apoiou ao longo de todo o projeto, não só nas aulas de música, mas com a sua experiência no que toca ao tema. 

No final de cada comunicação oferecemos a cada amigo um panfleto com o resumo do que aprendemos para levarem para casa. Que as mudanças aconteçam na vida de todos e não só na nossa. 


Por fim o projeto foi afixado também nas paredes da nossa escola para que todos tivessem acesso a este maravilhoso trabalho. Para que todos tomassem consciência da mudança que podem fazer. 


E vocês já pensaram, hoje, como podem mudar o Mundo?

"Assim é a vida em comunidade. Cabe a cada um de nós, individual ou cooperativamente, refletir acerca do mundo que nos rodeia, nunca esquecendo os princípios que guiam o nosso caminho. Enquanto educadores, o papel passa por fomentar o espírito crítico e criar uma verdadeira comunidade democrática, na qual cada criança se sinta válida. Queiramos cada vez mais que as crianças cresçam em contacto pleno com realidade, para que o olhar interventivo exista desde cedo." Marta Reis in «Como desenvolver projetos de intervenção. Ser criança é agir na comunidade» 

5 comentários: